POR: MILLENA BRASIL – EPBR
Ex-presidente da EPE nos primeiros governos Lula, Tolmasquim é uma das vozes ativas nos debates sobre transição energética
BRASÍLIA — Maurício Tolmasquim assumiu como gerente executivo de Estratégia da Petrobras, área responsável por elaborar os planos plurianuais de investimento e planejamento de longo prazo da companhia.
É uma gerência executiva ligada à Presidência da Petrobras. Antes, Tolmasquim já vinha atuando como assessor direto de Jean Paul Prates. Vai substituir Eduardo Bordieri, que comandou a gerência desde o fim de 2021 e se aposentou da companhia, em março.
Mestre em Engenharia de Planejamento Energético pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Maurício Tolmasquim é professor titular da COPPE/UFRJ.
Tolmasquim foi presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), estatal de planejamento vinculada ao Ministério de Minas e Energia (MME), de 2004 a 2016, nos governos Lula e Dilma Rousseff. Também foi secretário executivo de Minas e Energia.
Tem participado ativamente dos debates sobre transição energética, estratégia em que o novo comando da Petrobras tem indicado a necessidade de reposicionamento da companhia.
Clima e transição em pilares de novo plano
Ainda pendente de mudanças na administração, a Petrobras divulgou na sexta (31/3) pilares apresentados por Prates para o novo planejamento estratégico. As principais novidades estão na busca por parcerias e atuação internacional. Após a posse da nova diretoria, na semana passada, o conselho de administração será renovado em 27 de abril.
Entre os pontos anunciados, estão:
- “Fortalecer o acesso a mercados e buscar a vanguarda global na transição energética, através da atuação internacional por meio de parcerias tecnológicas e operacionais”;
- “Busca pela transição energética justa, em linha com as empresas congêneres internacionais, prioritariamente por meio de parcerias de excelência técnica e por programas de responsabilidade social que mitiguem as externalidades da atuação da companhia e fomentem cadeias produtivas locais”;
Em março, Jean Paul Prates assinou termos e se encontrou com executivos da Equinor, BP, Shell e TotalEnergies durante a Ceraweek, em Houston (EUA). Maurício Tolmasquim integrou a comitiva.
São conversas para desenvolvimento de negócios em eólicas offshore, bioenergia, hidrogênio, captura de carbono e também na exploração e produção de óleo e gás. Veja a íntegra do anúncio.
O que defende Maurício Tolmasquim?
Durante a transição de governo, Tolmasquim atuou como coordenador do grupo de Minas e Energia.
É crítico à contratação de térmicas a gás na base, previstas na Lei 14.182/2021, da privatização da Eletrobras. A lei obriga a contratação de 8 GW de geração termelétrica inflexível, em regiões que não são atendidas pela infraestrutura de gás natural.
“É uma irracionalidade ambiental e um crime ao consumidor de energia. É a nossa obrigação fazer tudo possível para reverter isso. Irá passar pelo novo Congresso”, afirmou Tolmasquim, em dezembro.
A contratação das térmicas também está na mira do Tribunal de Contas da União (TCU), mas o governo federal ainda não anunciou medidas objetivas para reverter os leilões.
Tolmasquim defende que há até há espaço para térmicas flexíveis e vê renováveis como um soft power para o Brasil. “No setor energético, o gás deve entrar substituindo o óleo combustível, porque é mais emissor de CO2 do que o gás”.
Em reunião da Câmara Brasileira de Comércio no Reino Unido, no ano passado, o professor afirmou que as térmicas na base desperdiçam o potencial de energias renováveis do país.
Em entrevista à agência epbr, Tolmasquim reiterou que o país possui mais de 85% da eletricidade renovável, e que, desta forma, a presença do gás faz menos sentido em uma transição energética.
E afirmou que o fóssil pode ser introduzido como parte da transição no setor industrial, de difícil descarbonização, por exemplo. “O gás faz parte da transição energética nos países em que o carvão tem uma participação muito grande na matriz. Não é o caso do Brasil”, declarou.
Novas energias e subsídios
Sobre o marco legal das eólicas offshore, o PL 576/21, de autoria Jean Paul Prates, Tolmasquim disse que o texto traz “confiança e sinalização adequada aos agentes”.
Na visão de Tolmasquim, o país está em excelente posição em relação a outros mercados emergentes, pelas experiências nos setores de óleo e gás offshore, eólica onshore e construção civil. Além da disponibilidade de matéria-prima.
Recentemente, Tolmasquim defendeu que o Brasil precisa melhorar o uso de políticas para entrada de novas fontes na matriz, usando benefícios para acelerar novas soluções, mas sem “perpetuar” os benefícios.
“Só agora [e] com atraso [a geração eólica e solar] está saindo da TUST e da TUSD subsidiada, mas que ainda vai perdurar para o consumidor pagar durante muitos anos. A geração distribuída a mesma coisa”, criticou durante live promovida em fevereiro pela Abrace.
Cita os casos das eólicas offshore e do hidrogênio como novas rotas que podem se beneficiar de estímulos. “Porém é necessária uma porta de saída”.
“Eu acho que a gente tem que estar aberto às inovações, sabendo que elas têm um custo inicial, mas que não podemos perpetuar isso, porque não tem justificativa”, afirmou. As informações são da MegaWhat.